A morte vicária de Jesus



.: Introdução
A expressão “vicária”, segundo o Dicionário Aurélio, vem latim vicariu e dá idéia de alguém “que faz as vezes de outrem”, de substituição.
A morte de Jesus não foi apenas a morte de um herói ou de um simples mártir. Cristo padeceu em nosso lugar, pagando diante do Pai a dívida do pecado que para nós era impossível de ser quitada.
Vejamos algumas lições espirituais extraídas do sacrifício expiatório de Jesus.

.: 1. A penalidade da culpa
Uma dos atributos divinos é a justiça. Assim, o pecado cometido por nossos primeiros pais ofendeu a santidade do Senhor e isto implicou em uma penalidade pela culpa: morte física e morte espiritual (separação de Deus).
“A alma que pecar, essa morrerá” (Ez 18.20)
E esta penalidade é extensiva a toda a humanidade, já que cada ser humano já nasce pecador, pois possui uma natureza decaída que se opõe ao plano original de Deus.
“Portanto, como por um homem entrou o pecado no mundo, e pelo pecado a morte, assim também a morte passou a todos os homens por isso que todos pecaram”(Rm 5.12)

.: 2. Os sacrifícios no Antigo Testamento
Como forma de aplacar a ira divina contra o pecado e permitir reaproximação da humanidade, Deus instituiu o sacrifício de animais. Esta foi apenas uma medida paliativa, pois estes sacrifícios aplacavam temporariamente a ira de Deus, mas não removiam o pecado. Estes sacrifícios eram apenas sombras que já apontavam para o sacrifício perfeito e definitivo de Jesus.
“Porque tendo a lei a sombra dos bens futuros, e não a imagem exata das coisas, nunca, pelos mesmos sacrifícios que continuamente se oferecem cada ano, pode aperfeiçoar os que a eles se chegam.
“Doutra maneira, teriam deixado de se oferecer, porque, purificados uma vez os ministrantes, nunca mais teriam consciência de pecado.
“Nesses sacrifícios, porém, cada ano se faz comemoração dos pecados,
“Porque é impossível que o sangue dos touros e dos bodes tire os pecados” (Hb 10.1-4).


.: 3. O sacrifício perfeito e eterno de Jesus
Como parte do plano de salvação elaborado pelo Pai, desde a fundação do mundo, Jesus se apresenta para não apenas cobrir o pecado, mas para remover todo o pecado da humanidade.
“No dia seguinte João viu a Jesus, que vinha para ele, e disse: Eis o Cordeiro de Deus, que tira o pecado do mundo” (Jo 1.29)
Jesus tornou-se humano como nós, em tudo foi tentado, mas sem pecado. Assim, pôde Ele se tornar, ao mesmo tempo, sumo-sacerdote e sacrifício, oferecendo-se uma só vez e estabelecendo a Nova Aliança pelo seu próprio sangue.
“Porque Cristo não entrou num santuário feito por mãos, figura do verdadeiro, porém no mesmo céu, para agora comparecer por nós perante a face de Deus;
“Nem também para a si mesmo se oferecer muitas vezes, como o sumo sacerdote cada ano entra no santuário com sangue alheio;
“De outra maneira, necessário lhe fora padecer muitas vezes desde a fundação do mundo. Mas agora na consumação dos séculos uma vez se manifestou, para aniquilar o pecado pelo sacrifício de si mesmo” (Hb 10.24-26)

.: 4. A agonia da morte de Jesus
A morte de Jesus foi precedida por inúmeros martírios: seu suor tornou-se como gotas de sangue a escorrer pela terra (hematidrose); foi flagelado com tiras de couro múltiplas sobre as quais são fixadas bolinhas de chumbo e de pequenos ossos (azorrague); foi escarnecido com uma coroa de espinhos; foi obrigado a caminhar com os pés descalços pelas ruas de terreno irregular, cheias de pedregulhos, carregando uma cruz de mais de cinqüenta quilos; os carrascos despojaram a sua túnica, estando esta colada nas chagas, causando grande dor; suas mãos e pés são cravados no madeiro; a hemorragia causa-lhe palidez; dores de cabeça dilacerantes causadas pelos espinhos; sede e desidratação; calor e insolação pela exposição do corpo nu; asfixia; seu lado ferido esvai sangue e água; enxames de moscas irritam o seu rosto.
“Mas ele foi ferido por causa das nossas transgressões, e moído por causa das nossas iniqüidades; o castigo que nos traz a paz estava sobre ele” (Is 53.5)
Mas a maior dor de Cristo na cruz não foi causada apenas pelos soldados que o martirizavam, pelo desprezo da multidão ou pelo abandono de seus próprios discípulos. A maior agonia de Cristo na cruz foi provar o cálice da ira de Deus contra o pecado.
“Então lhes disse: A minha alma está cheia de tristeza até a morte; ficai aqui, e velai comigo.
“E, indo um pouco mais para diante, prostrou-se sobre o seu rosto, orando e dizendo: Meu Pai, se é possível, passe de mim este cálice; todavia, não seja como eu quero, mas como tu queres” (Mt 26.38,39)
Cristo precisou provar a morte física e também a morte espiritual, ou seja, a dolorosa separação do Pai, ainda que por um curto período. O Pai virou as costas para o Filho, pois não poderia suportar tamanha carga de pecados.
“E, à hora nona, Jesus exclamou com grande voz, dizendo: Eloí, Eloí, lamá sabactâni? que, traduzido, é: Deus meu, Deus meu, por que me desamparaste? (Mc 15.34)

.: 5. Os resultados da morte vicária de Jesus
A morte de Jesus tem para nós infinito valor, pois nos garantiu:
a) Reconciliação com Deus
“A saber, que Deus estava em Cristo, reconciliando consigo o mundo” (2 Co 5.19)
b) Cancelamento da dívida do pecado diante de Deus:
“Havendo riscado a cédula que era contra nós nas suas ordenanças, a qual de alguma maneira nos era contrária, e a tirou do meio de nós, cravando-a na cruz” (Cl 2.14)
c) Libertação do mundo
“Mas longe esteja de mim gloriar-me, a não ser na cruz de nosso Senhor Jesus Cristo, pela qual o mundo está crucificado para mim e eu para o mundo” (Gl 6.14)
d) Vitória sobre o diabo
“E, visto como os filhos participam da carne e do sangue, também ele participou das mesmas coisas, para que pela morte aniquilasse o que tinha o império da morte, isto é, o diabo” (Hb 2.14)
e) Vitória sobre a natureza pecaminosa (“velho homem")
“Sabendo isto, que o nosso homem velho foi com ele crucificado, para que o corpo do pecado seja desfeito, para que não sirvamos mais ao pecado” (Rm 6.6)
f) Direito de andar em novidade de vida
“De sorte que fomos sepultados com ele pelo batismo na morte; para que, como Cristo foi ressuscitado dentre os mortos, pela glória do Pai, assim andemos nós também em novidade de vida” (Rm 6.4)
g) Libertação do poder dos males, doenças e enfermidades
“Levando ele mesmo em seu corpo os nossos pecados sobre o madeiro, para que, mortos para os pecados, pudéssemos viver para a justiça; e pelas suas feridas fostes sarados” (1Pe 2.24)
h) Direito à ressurreição e à vida eterna
“Porque assim como a morte veio por um homem, também a ressurreição dos mortos veio por um homem” (1 Co 15.21)
“Porque o salário do pecado é a morte, mas o dom gratuito de Deus é a vida eterna, por Cristo Jesus nosso Senhor” (Rm 6.23)


.: Conclusão
Sobre o sacrifício de Jesus, afirma o escritor John Maxwell:
“Último Adão decidiu que o sofrimento da cruz valeria a pena para ganhar o mundo inteiro (...)
“Jesus escolheu enfrentar a tortura, humilhação, injúrias, zombarias e uma morte cruel, mesmo que Ele pudesse ter parado com tudo isso a qualquer momento (...)
“Jesus entregou a sua vida de maneira que possamos ter a nossa de volta. Ele morreu como nós, e assim nós podemos viver como Ele”
Cristo morreu por todos, mas nem todos são salvos. Sua morte vicária criou a possibilidade para que toda a humanidade seja salva.
“Meus filhinhos, estas coisas vos escrevo, para que não pequeis; e, se alguém pecar, temos um Advogado para com o Pai, Jesus Cristo, o justo.
“E Ele é a propiciação pelos nossos pecados, e não somente pelos nossos, mas também pelos de todo o mundo” (1 Jo 2.1,2)

Entretanto, cada homem e cada mulher precisam decidir se aceitam ou não o dom gratuito da vida eterna.
“Os céus e a terra tomo hoje por testemunhas contra vós, de que te tenho proposto a vida e a morte, a bênção e a maldição; escolhe pois a vida, para que vivas, tu e a tua descendência”(Dt 30.19)

.: Bibliografia consultada:
BIBLIA. Português. Bíblia da Liderança Cristã [com notas e artigos de John C. Maxwell]. Versão Revista e Atualizada de João Ferreira de Almeida. Barueri: Sociedade Bíblica do Brasil, 2007.
BÍBLIA. Português. Bíblia do Evangelista. Versão Revista e Corrigida de João Ferreira de Almeida. São Paulo: Imprensa Bíblica Brasileira, 1997.
FERREIRA, Aurélio Buarque de Holanda Ferreira. Dicionário Aurélio Eletrônico – Século XXI. Versão 3.0. Lexikon Informática Ltda. Novembro de 1999. 1 CD-ROM.
RENOVATO, Elinaldo. A eficácia do sacrifício de Cristo [Lição 10]. In: ________. Hebreus. Lições Bíblicas para Jovens e Adultos. Rio de Janeiro: Casa Publicadora das Assembléias de Deus, 2001, pp. 65-71.
RIGGS. Ralph M. Consultando a Bíblia. Tradução de Nels Lawrence Olson. 4ª edição. Rio de Janeiro: Casa Publicadora das Assembléias de Deus, 1986.

Comentários

Eduardo Lobo disse…
Kleyser, parabéns por este escrito, é maravilhoso, profundo, acessível, didático, lúcido e sistemático. Estou extasiado.

Postagens mais visitadas deste blog

A ressurreição de Jesus

Vida de professor [crônica]