Em ano eleitoral... [crônica]
É quase inacreditável os “milagres” que
acontecem em ano eleitoral. E olha que sou um homem de fé. Todo político se
torna atuante, os projetos acontecem, os recursos aparecem e o eleitorado,
coitado que é, refém das mazelas retroalimentadas pelo poder público carcomido
pela corrupção e descaso, acaba acreditando que a democracia é perfeita e que o
poder – quem nos dera! – emana do povo e está a serviço do povo.
Parece que política, muito distante dos
ideais da antiga Grécia, virou profissão. Paga bem e quase não exige
qualificações técnicas ou mesmo éticas. Vejam só meus amigos: peladeiro,
mercenário, cangaceiro, traficante, meliante e até palhaço já se travestiram de
tribunos e os temidos terroristas de minha infância, chegaram ao comando da nação.
E apesar de não concordar nem um pouco com o estilo de vida pregado pelo cantor
Cazuza, talvez num de seus delírios – que não foram poucos – nos deixou em sua
“Ideologia” uma pérola atualíssima: “Os meus inimigos estão no poder...
Ideologia, eu quero uma pra viver”. Se não fosse trágico, seria cômico. Mas é
imperioso rir pra não chorar. Até porque o ato de rir movimenta mais músculos
da face e se não ficamos mais jovens, de quebra nos tornamos menos feios.
Mas brasileiro, como afirma a sabedoria
popular, “não desiste nunca” e ainda assim consegue fazer piada de sua própria
desgraça. Isso me lembra que meu querido pai, ainda vivo para não me deixar
mentir sozinho, habilidoso contador de “causos”, relatou o que ele assistiu
de corpo presente quando ainda era criança pequena no interior do vizinho
Estado do Pará:
"Como
aquele era ano eleitoral, o prefeito velhaco, viciado no poder não queira de
jeito nenhum perder aquela reeleição e deixar a mamata. Ele sabia que o povo
tem memória curta e apesar de não ter feito grande coisa durante os quatro anos
de mandato, precisava justificar sua candidatura e tapear mais uma vez o eleitorado.
"Aconselhado por seus correligionários, antes de se afastar do cargo para
promover sua campanha, resolveu inaugurar uma nova rede de abastecimento de
água. Como era de praxe, contratou a empreiteira de seu cunhado sem licitação, garantindo
o superfaturamento da obra e após escavações e mil transtornos para os
munícipes, o dia da inauguração foi marcado.
"Feriado,
cidade pequena, sabe como é. Qualquer novidade é motivo de alvoroço. Lá de cima
do coreto o padre benzeu, a banda tocou, o prefeito discursou e chegou a tão
esperada hora em que a torneira pública, instalada na praça da cidade, bem
defronte da Igreja, seria aberta e todos veriam a água jorrar. Mas para
surpresa de todos, da torneira só saiu ar acompanhado daquele som
característico dos dias de racionamento. O espanto foi geral e a vaia da turba
foi inevitável.
"O
prefeito, pra não perder a compostura, chamou de pronto o engenheiro
responsável pela obra e exigiu explicações sobre aquele problema. O engenheiro,
meio sem graça, respondeu: – Prefeito, tenha
paciência que o problema é a lei da gravidade de Isac Newton.
"Mais
que depressa o prefeito ordenou ao presidente da câmara que estava bem do seu
lado: –
Reúna imediatamente os vereadores que eu
quero a lei desse vereador safado revogada ainda hoje!”
Moral da história: Em ano eleitoral quase
tudo pode acontecer e qualquer semelhança com a vida real NÃO terá sido mera
coincidência.
Por isso, fique de olho bem aberto. O meu e o
seu voto são muito valiosos e não devem ser desperdiçados, nem vendidos e nem
trocados.
Penso, logo digo!
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