Vida de professor [crônica]
Bisavô
professor, avó professora, mãe professora e eu, pra variar, educador. Chique,
não?! Parece que se intitular “educador” é mais política e pedagogicamente
correto. Mas discussões semânticas e filosóficas à parte, ser professor é optar
por uma das mais pelas profissões. E mais que isso. É ter vocação para o
ensino, para o fomento do senso crítico, para o pensar sobre a vida e, quem
sabe, sobre a morte. O ortopedista, por exemplo, pode até fazer uma criança
andar, mas o professor pode fazê-la voar.
É notório
que nos países orientais a figura do professor é muito valorizada. Dizem que no
Japão todos se curvam ante o imperador. Todos, menos uma classe: os
professores. Eles acreditam que os professores detém os caminhos da sabedoria e
por isso devem ser honrados. Nessas horas gostaria de ser japonês. Mas por
graça divina “moro num país tropical, abençoado por Deus e bonito por
natureza”. Sou amazônida, amapaense e “neotucuju”, com muito orgulho.
Já ouvi
muitos “causos” e acumulei uma meia dúzia de experiências vendendo aulas há
quase dezoito anos na rede estadual de ensino. Sim, vendendo. Ou vocês acham
que professor tem que “dar” aulas. Sai fora, “mané”! O único que trabalha de
graça é relógio! Pois bem, relatemos um desses hilários episódios, “para nossa
alegria”:
“A
aspirante a professorinha, aluna do curso de magistério, estava certa manhã
ministrando uma aula de Ciências Naturais, no temido estágio supervisionado.
Pensem no estresse. Além de ter que planejar a aula, dominar a classe de
periculosos infantes, encarar o olhar debochado da professora regente, ainda
precisava tapear a professora de Didática, juíza impiedosa da correta aplicação
dos procedimentos pedagógicos da normalista.
“Tema da
aula anunciado: MAMÍFEROS E AVES. A jovem desenvolveu então, com relativa
tranquilidade o conteúdo, ressaltando as características desses animais,
segundo as técnicas construtivistas, em voga naquela conjuntura, o que agradou
as avaliadoras e a deixou mais confiante de uma boa nota. Mas minha mãe sempre
diz que alegria de pobre dura pouco e ironicamente a quase professorinha caiu
no disparate e fechar a aula com chave de ouro e disse à turma: – Alguém quer
perguntar algo sobre a aula e tirar suas dúvidas?
“Fatalmente
ela descobriu uma verdade indelével: toda turma sempre tem um ou dois alunos
espertinhos que, se possível, farão de tudo para pegar o mestre pelo pé.
“Juquinha,
o mais falante da classe, levantou a mão e indagou: – Professora! A senhora
sabe qual é o animal que de manhã cedo é mamífero e de noitinha é ave?
“A
estagiária ficou desconsertada, mas usou a carta escondida na manga. Devolveu a
batata quente para Juquinha, dizendo: – Sinceramente eu nunca ouvi falar de um
animal que de manhã cedo é mamífero e de noitinha é ave. Você sabe qual é?
“– É
fácil, professora. É a minha mãe! – respondeu empolgado o garoto.
“– Sua
mãe. Não entendo! – exclamou a jovem estudante.
“Juquinha
então desfez o mal entendido:
“– É que
de manhã cedo papai grita lá no quarto: - Acorda pra fazer café, sua VACA. Já
de noitinha, ele fala bem baixinho: - Vem cá, minha POMBINHA.”
Moral da
história: Vida de professor é que nem rapadura. Até que é doce, mas não é mole
não. Por isso merecem parabéns os mestres que dignificam nossa nação semeando o
conhecimento, trazendo luz às mentes havidas por sabedoria. Que nossos
governantes, pais e estudantes os valorizem, pois sem eles, aprender seria uma
tarefa bem mais difícil.
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